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Sobrevive-se

Sobrevive-se

16
Set23

Nem de propósito.

Costa

O homem é de índole expansiva e aquilo dos afectos - independentemente da sua já quase lendária maestria na coisa - haveria de ricochetear, tarde ou cedo. A versão local do cada vez mais omnipresente Ministério da Prevenção do Vício e Promoção da Virtude, versão woke (donde, acima de escrutínio), não deixaria passar um primeiro deslize. Desde que, claro, o fosse perante o seu index, simultaneamente mais e mais abrangente e restritivo (não é contradição). O que possam pensar as destinatárias desses deslizes é, aliás, absolutamente irrelevante, as directoras espirituais da Santa Inquisição destes dias não perdem tempo com bagatelas.

Era, simplesmente, questão de tempo. Já está.

O seu antecessor de Boliqueime pensará, talvez, que a sua visão da reserva institucional do homem de Estado sai reforçadamente justificada. Nem de propósito.

 

01
Set23

Viva Portugal

Costa

Há um tempo, num extraordinário rasgo de grandeza de estadista que ficará decerto nos anais, perguntou à senhora se já podia levar o cheque ao banco. Agora escreve-lhe, com formulações de eufemístico zelo burocrático, para que ela resolva um problema que ele deixou crescer anos a fio.

Governantes deste calibre são patéticos. Um povo que reiteradamente lhes confia o poder é coisa pior. 

Viva Portugal 

 

24
Ago23

Sinais dos tempos

Costa

"Nas mesas da Confeitaria Ateneia havia naquele tempo um ramo de violetas naturais. Hoje há uma caixa de metal com guardanapos de papel, onde está impresso um endereço de e-mail, o convite a uma informação obtida na internet, breve, impessoal, como a solidão e o abandono" (Mónica Baldaque, Sapatos de Corda).

 

14
Ago23

Exemplarmente laico e republicano.

Costa

Admita-se, a ideia foi imprudente: fruto seguramente, perante o grande, brilhante, sucesso, de um mal contido entusiasmo; uma obnubilação, enfim. Mas um político que, fora das esquerdas, o queira ser, não pode cometer erros desses.

O homem não viveu - e isso é óbvio -, ao reagir como reagiu recentemente, um momento alto da sua carreira e a ideia de dar o seu nome à ponte foi o pretexto desesperadamente procurado pela esquerda jacobina, fanaticamente ateísta, radical guardiâ e incansável catequista dessa sua religião para marcar o seu golo de honra quando tudo indicava que seria sujeita a uma colossal abada. E foi, mas um pouco de calma, de frieza, de pragmatismo teria evitado esta espécie de vitória moral (coisa em que os portugueses são competentíssimos especialistas) que assim lhe é servida de bandeja. E a esquerda sabe (sabe e pode, acarinhada como é por quem tem o poder de comunicar e formar - formatar, martelar à náusea - opiniões) com extraordinária competência aproveitar estas oportunidades.

Tudo visto, é claro, isto acabará por ser pouco relevante. Salvo miraculosa (de milagre, precisamente) excepção, à ponte restará o fatal destino dos bens confiados à guarda da administração pública: decairá, desfigurada por "grafittis", vandalizada no que dela se possa furtar ou apenas destruir por destruir, privada dos fundos e acções necessários para a sua regular manutenção. Esteticamente degradada, na melhor hipótese, ou mesmo estruturalmente perigosa, será, em prazo não muito longo, uma penosa memória visual de um acontecimento que, não sendo coisa de futebol, será largamente esquecido.

No limite cairá e arrastará na queda alguém; será então notícia por um dia ou dois e, no limite, levará à criação de uma comissão que, pomposamente anunciada pelo Poder de turno, dará em nada.

Talvez me engane. Deus queira que sim (e não: não gracejo nem O invoco em vão). Em todo o caso, se o pior acontecer melhor será que o seja com uma ponte baptizada com um qualquer nome exemplarmente laico e republicano.

12
Jul23

Trata?

Costa

"O jogador mais caro de sempre, no clube". Diz, há minutos, a senhora que apresenta as notícias. Num canal televisivo de referência, tendo em conta as três letras que o identificam (mas nos outros é, tudo visto, a mesma coisa). 

Que é, parece, o que interessa. Isso e o pontapeador de bola de outro clube ("clube?") e seu dirigente que hoje terão embarcado, num aeródromo português, em jacto privado, para Londres (ou lá perto) onde um suposto grande clube da pátria faz um estágio pré-época (sim, caminhamos para o deserto, assim parece, mas já não há relva, por cá?). O que está, também, muito bem. 

Lá, algures na Pérfida Albion, eles passam o seu estágio e peroram, os pontapeadores da bola, com solene expressão, ante as submissas e salivantes câmaras das estações televisivas tugas (os "tugas" mal sabem da origem desta palavra; ou se calhar até sabem e acham muito bem), com, em fundo, abundância de cartazes publicitários absolutamente tugas. Mas está, tudo visto, muito bem. As coisas são o que são e, no limite, só têm que ser legais ( é triste, mas é assim). Se o fisco os tratar, aos pontapeadores da bola e a quem gravita em torno deles ("dirigentes" e afins), como trata o comum cidadão. 

 

30
Jun23

Empecilhos

Costa

"Por norma, os woke acham que a verdade é um escrúpulo de gente conservadora, um dispensável fait divers ou um empecilho e dano colateral da sua luta política." 

João Pedro Marques, hoje (com a devida vénia), no Observador. A assinatura deste mês está justificada.

08
Jun23

Pelintras pedantes.

Costa

Experienciando o que se experimentava e expectando o que se esperava, se vai gerenciando o que se ia gerindo. Cada vez mais.

Haverá quem lhe chame cosmopolitismo. Uma língua entregue a incultos pelintras pedantes, enfim.

27
Mai23

Demência dolosa

Costa

Demência dolosa no discurso de certa líder cessante de certa agremiação, esta manhã. Fundada largamente em factos que, de tão penosos e perenes, só outros dementes dolosos (os outros dementes dolosos de - longo - turno no poder) não reconhecerão ou desvalorizam. Assente na crença cega, fanatizada, maniqueísta, no dogma, da superioridade moral sobre todo e qualquer aspecto da vida; sobre todos os outros, os que ousam pensar diferente, infinita e fatalmente maus. 

Populismo, sim, isto, no pior sentido da palavra. 

O resto é o carinhoso tratamento que a coisa sempre mereceu da comunicação dita social. 

15
Mai23

Provas de aferição.

Costa

Chamam-lhes provas de aferição e vão pôr criaturas de sete ou oito anos de idade, se bem percebo, a fazê-las em computadores. Está muito bem. Um pedaço de papel, nem que sejam os restos de uma página de jornal rasgada, e qualquer coisa que nela deixe um rasto - da luxuosa caneta ao mais humilde lápis; ao pedaço de carvão; ao rasto de sangue, como se sabe - pode muito facilmente tornar-se num perigosíssimo meio de rebelião. Saber escrever, saber manuscrever, saber fazê-lo de forma proficiente, legível, clara, e sem mais do que esses recursos, é portanto coisa muito perigosa.

Coisa de insuportável potencial subversivo, passível de se concretizar sem energia eléctrica, sem software e com hardware perigosamente básico, sem rede, sem palavras-passe, sem moderadores de costumes e opinião. Coisa por isso intolerável. As criancinhas que saibam martelar teclas e revelar o que lhes vai no pensamento, tendo-o, desde que sob forma que permita aos sacerdotes do que pode ser saber o que vai nesse pensamento. Não se lhes dê mais autonomia do que aquela que seja útil: a das obedientes competências e saberes, como se lhe chama por estes dias.

Saber escrever, encorajar esse poder de deixar uma ideia escorreita numa simples folha de papel, "à mão", mais do que ocioso nesta era encharcada de tecnologia e vigilantes de costumes, é perigoso.

É inaceitável.

04
Mai23

É assim que deve ser.

Costa

A data - o que nela se assinala - jamais suscitaria, evidentemente, o menor estremecimento no povo. Não neste povo. Não com estes "governantes" e o seu desígnio de patriótico embrutecimento das massas (que adoram ser embrutecidas). Não com o que por cá haja de sucedâneo de uma elite cultural, ora cobarde, ora dependente, ora pura, canina e simplesmente vendida. E menos ainda, por óbvias razões, neste particular cinco de Maio de impune, incontinente, despudorada e desbragada farsa.

No Público de hoje, Nuno Pacheco lembra ser este o Dia Mundial da Língua Portuguesa. E evoca a língua portuguesa tal como por cá deveria ser falada e grafada (isto se por cá, entre povo e seus pastores, e com a excepção estupificante da bola, restasse um átomo de amor-próprio; pelo que de facto merece). Algo, essa correcta fala, pelo menos - e quanto ao resto conhece-se também o que pensa -, que o primeiro-ministro desta república, ainda muito recentemente, e como o texto recorda, parece solenemente lamentar:

https://www.publico.pt/2023/05/04/culturaipsilon/opiniao/lingua-ortografia-voluntarismos-bajulacoes-2048244

A coisa passará assim largamente, quase absolutamente, ignorada. Porque é assim que deve ser.

 





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