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Sobrevive-se

Sobrevive-se

18
Ago20

Ide para o Algarve.

Costa

"Um poema geológico. A beleza absoluta.", escreveu Correia da Rocha. E resistem, esse poema e essa beleza, continuam sendo-o, apesar das malfeitorias ignóbeis que nas suas margens os homens vão fazendo. 

O Douro que nestes dias de Agosto alguma chuva suave recebeu. Doce, o verde ainda mais verde, a paisagem macia. E infinda, quando o céu abre. O retórico inferno de três meses, por uns dias não o é. E silêncio. Abençoado silêncio. 

Parece que bom, patriota até, é o Algarve, transportando para sul os subúrbios deprimentes, sobrepovoados e de "arquitectura" de dormitório. O caos urbanístico, o trânsito, o barulho, as noites dementes. E a desordem, a poeira, o calor e a luz sufocante. O triunfo dos bárbaros. A Brandoa de frente para Marrocos. Talvez este ano parte disso o seja um pouco menos. Excepcionalmente. 

Em todo o caso, preservemos o que ainda se pode salvar. Ide, ide em massa para o Algarve. 

 

 

 

16
Ago20

Velhos e animais.

Costa

"O meu objectivo não é apurar a responsabilidade de surtos nos lares". Isto, ou coisa equivalente, terá sido dito por ministra deste "governo". A ministra, ou uma delas, que lá está para, num mundo decente, e havendo surtos em lares de terceira idade da única doença digna, parece, de cuidados por estes tempos, se preocupar com esses surtos e a responsabilidade pelos mesmos.

Tudo muito natural, todavia, pela mesma razão que torna natural usar aspas, acima, em "governo". E o Soberano, a acreditar nas sondagens, acha muito bem. Mais que natural, então, é assim que, por cá, deve ser. 

Estando portanto, em Portugal, tudo muito bem nesta matéria, não deixa de ser, nem que por um irritante (na terminologia consagrada) tique democrático, legítimo que algumas pessoas pretendam ser inaceitável que um membro do governo - desde logo aquele concreto membro do governo - se alivie assim daquela que decerto por neo-liberal, neo-fascista, neo-nazi, patriarcal, machista, racista e xenófoba (e o mais que se lhe aplique) deformação consideram ser precisamente uma sua óbvia, evidente, responsabilidade. E é apenas apropriado que o manifestem. Porque é bem provável (uso de um eufemismo, enfim) que tenham razão. E porque pelo andar da carruagem não será excessivo pensar que tal direito ou liberdade está longe de se manter garantido. Sob um ponto de vista substantivo, pelo menos.

Pena, todavia, que mais uma vez as pessoas que ousam questionar a conduta do "governo" em matérias ligadas ao respeito e bem-estar humanos o façam riscando uma linha clara, cristalina, evidente, expressamente afirmada. Uma linha que proclama, ainda que de forma implícita, a incompatibilidade dogmática entre defender humanos e defender os restantes animais. Como se respeitar o Homem implicasse necessariamente a redução a coisas indignas de respeito aqueles que não são humanos. Pena que se afirme que manifestar ternura por um cão ou gato, ou entender que o Homem, pois que "racional", não tem só direitos sobre tudo o resto, mas também o dever de respeitar tudo o resto e não lhe causar mais dano ou sofrimento do que o estritamente inevitável, há-de necessariamente significar abandonar velhos ou novos, pobres ou doentes, em favor de uma idolatria abjecta dos "animais"; tem que significar forçosamente a adesão a extremismos animalistas ou afins.

 Não é assim. Não tem que ser assim. Mas não espanta que o seja, num país onde tudo ou quase é por estes dias proibido ou condenável. Menos as touradas e a festa do Avante!.

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