A Lei 27/2021
"Democracia", de Mª Fátima Bonifácio e "Tempestade Perfeita", de António Barreto. Dois recentes textos (na edição de hoje, o primeiro), publicados no Público, absolutamente oportunos e desgraçadamente certeiros. Reservados a assinantes, infelizmente. O Público é insuspeito de incomodar verdadeiramente o poder de turno; do actual turno, entenda-se. Aliás, se o faz - e quando o faz é por norma numa temerosa perspectiva de "respeitosa representação" - opta pela via bem pensante dos tempos que correm. Ou seja, "incomoda" pela esquerda das questões ditas fracturantes: a do Bloco de Esquerda, agremiação de que o jornal mais e mais vai parecendo uma espécie de boletim não-oficial, mas muito empenhado, um partido afinal muito comprometido com esse actual poder e que, ontem e anteontem foram disso demonstração exuberante, assim quer, quer muito, continuar a ser. Seja qual for a inevitável liturgia, a formalidade da praxe, dos congressos, convenções ou que se lhe queira chamar.
Bonifácio e Barreto, também por isso, parecem ser uma espécie de oposição tolerada nesta e por esta publicação, um meio de aparentar uma independência informativa e de opinião. São, com João Miguel Tavares, um grupo de hereges aceites seguramente como um mal necessário e enquanto convier. Mas na condição de não incomodarem muito (Fátima Bonifácio - para sempre quase proscrita - é disso exemplo quando o seu texto já nem merece destaque na edição "online", havendo que procurá-lo algures na lista de "opinião"; Barreto e Tavares ainda merecem ligação directa para o que escrevem, um, suponho, por ser "demasiado senador da democracia" para ser ignorado, o outro talvez pela sua presença televisiva - um "activo" que interessará explorar - e pela forma mais leve, sem demérito na qualificação, como escreve).
Seja como for, é lê-los enquanto isso é possível. Não surpreenderá se assim deixar de ser. Talvez então haja lugar para eles num recente semanário. Se sobreviver à infância, o semanário. E ainda há a Lei 27/2021.
Com essa, querendo, a seu tempo, é "remédio santo".