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Sobrevive-se

Sobrevive-se

24
Mai21

A Lei 27/2021

Costa

"Democracia", de Mª Fátima Bonifácio e "Tempestade Perfeita", de António Barreto. Dois recentes textos (na edição de hoje, o primeiro), publicados no Público, absolutamente oportunos e desgraçadamente certeiros. Reservados a assinantes, infelizmente. O Público é insuspeito de incomodar verdadeiramente o poder de turno; do actual turno, entenda-se. Aliás, se o faz - e quando o faz é por norma numa temerosa perspectiva de "respeitosa representação" - opta pela via bem pensante dos tempos que correm. Ou seja, "incomoda" pela esquerda das questões ditas fracturantes: a do Bloco de Esquerda, agremiação de que o jornal mais e mais vai parecendo uma espécie de boletim não-oficial, mas muito empenhado, um partido afinal muito comprometido com esse actual poder e que, ontem e anteontem foram disso demonstração exuberante, assim quer, quer muito, continuar a ser. Seja qual for a inevitável liturgia, a formalidade da praxe, dos congressos, convenções ou que se lhe queira chamar.

Bonifácio e Barreto, também por isso, parecem ser uma espécie de oposição tolerada nesta e por esta publicação, um meio de aparentar uma independência informativa e de opinião. São, com João Miguel Tavares, um grupo de hereges aceites seguramente como um mal necessário e enquanto convier. Mas na condição de não incomodarem muito (Fátima Bonifácio - para sempre quase proscrita - é disso exemplo quando o seu texto já nem merece destaque na edição "online", havendo que procurá-lo algures na lista de "opinião"; Barreto e Tavares ainda merecem ligação directa para o que escrevem, um, suponho, por ser "demasiado senador da democracia" para ser ignorado, o outro talvez pela sua presença televisiva - um "activo" que interessará explorar - e pela forma mais leve, sem demérito na qualificação, como escreve).

Seja como for, é lê-los enquanto isso é possível. Não surpreenderá se assim deixar de ser. Talvez então haja lugar para eles num recente semanário. Se sobreviver à infância, o semanário. E ainda há a Lei 27/2021. 

Com essa, querendo, a seu tempo, é "remédio santo". 

03
Mai21

Da modernização administrativa.

Costa

A chamada foi atendida alguns segundos após o centésimo quinto minuto. Durante uma hora e quarenta e cinco minutos o telefone acompanhou-nos em fundo, com as músicas da praxe, delicadamente proporcionadas pela linha do cartão do cidadão (ou nome parecido), e a repetida informação gravada, dando conta da impossibilidade de atender a chamada e agradecendo que se aguardasse. Com esta gentil companhia da administração pública se tomou uma refeição ligeira e foram feitas as compras das mercearias da semana. 

Até que, as compras carregadas na mala do carro, a segundos de deixar o parque de estacionamento, a chamada foi atendida. E as duas questões que o cidadão pretendia ver esclarecidas o foram, educada e prontamente, em não mais do que - e, arrisco, por excesso - uns cinco minutos. 

Eficaz, no caso, administração pública? Sim, as questões foram respondidas de forma clara (ainda que a sra. funcionária usasse, sábia e educadamente, de linguagem que verdadeiramente não a vinculava, não a responsabilizava, sequer moralmente, se as respostas dadas não fossem correctas; mas confiemos). O que aliás é uma fatalidade: quem se não ela, administração pública, pode indicar o que fazer e como fazer para navegar no campo minado das imensas obrigações - tantas delas de tão duvidosa utilidade -, requisitos e passos burocraticos, quantas vezes plenos de discricionariedade, que se entretém, a administração pública, a inventar e impor ao cidadão? Eficaz, então: perguntada, deu a resposta.

Eficiente? Ah, isso da modernização administrativa tem muito que se lhe diga. Para o sujeito passivo (aplique-se aqui essa tão sugestiva figura jurídica): o cidadão - melhor, o contribuinte ou pagador de impostos e taxas - exposto à substancialmente inimputável máquina da administração pública, fiscal ou outra, a eficiência desta é isto: esperar uma hora e quarenta e cinco minutos para que um telefonema seja atendido. E por duas simples e breves respostas dadas em talvez nem cinco.

Mas está muito bem assim. Com ministério para o efeito e tudo.

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