Chama-se então Euro-2020. Está muito bem: há muito acima do bom senso (frequentemente acima da lei) e da mais elementar decência, o futebol também poderia - e por que não, o que estará vedado, o que se ousará vedar, ao futebol? - mandar no Chronos. Seja como for, Euro-2020 ou Euro-2021 ou o que seja, a coisa é absolutamente preciosa na sua oportunidade. É muito bem-vinda, verdadeiramente ansiada, uma espécie de chuva salvadora após já longa, crescentemente preocupante, seca. Que seja diluviana, deseja-se.
Dos canais de televisão portugueses ditos "generalistas", não poderei escrever: não estão nos meus hábitos. Os alegadamente "de informação", portugueses também, se já dedicavam à bola, nesses tempos de seca (isto é, de mero campeonato, ou taça, nacional, ou - pior! - de "defeso" ou lá como se lhe chama) uma proporção arrepiante do seu tempo de emissão e uma parte absurda da "informação" que proporcionam, em permanente genuflexão incondicional perante a deusa Bola e os seus ungidos, agora estão numa agitação e êxtase sublimes: o proselitismo alastra incontido.
O que é verdadeiro serviço ao Poder de turno (não se lhe chame serviço público, por um módico de pudor que, espera-se, ainda restará), prestado aliás, certamente, com incondicional obediência, fervorosa devoção e agradecido servilismo.
Muito a tempo, aliás. Este campeonato jogado em "tempo de futebol", coisa tentacular e regrada por um calendário agora revelado e que, decerto, um dia será oficial nas nossas vidas, veio mesmo a tempo. Dá sempre jeito à política, a bola. E vice-versa: a coisa é consagradamente recíproca.
Para gáudio das massas.