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Sobrevive-se

Sobrevive-se

27
Jun21

Uma questão de esperança

Costa

Talvez depois de concluir a sua crucial função de Primeiro Comentador da Bola, que se espera fique terminada esta noite, o sr. presidente disto em que vivemos encontre tempo para pensar naquilo que de facto tem de ser cuidado.

Mas não tenho grande esperança.

23
Jun21

O efeito anestésico

Costa

Em aflição, e graças a vicissitudes alheias, mas parece que se passou. Na televisão, o sr. presidente desta coisa, o copo de cerveja à sua frente, perora como experimentado comentador da bola (que decerto será; que perda, que perda!, para a história do comentariado futebolístico nacional que ele tenha optado por Belém) e afirma enfaticamente a excelência do sr. treinador da selecção (nem se tem que dizer de quê: em Portugal, "campeonato" ou "selecção" reportam-se - salvo expressa menção diversa - a futebol).

A anestesia continua então a produzir o desejado efeito.

13
Jun21

Para gáudio das massas

Costa

Chama-se então Euro-2020. Está muito bem: há muito acima do bom senso (frequentemente acima da lei) e da mais elementar decência, o futebol também poderia - e por que não, o que estará vedado, o que se ousará vedar, ao futebol? - mandar no Chronos. Seja como for, Euro-2020 ou Euro-2021 ou o que seja, a coisa é absolutamente preciosa na sua oportunidade. É muito bem-vinda, verdadeiramente ansiada, uma espécie de chuva salvadora após já longa, crescentemente preocupante, seca. Que seja diluviana, deseja-se.

Dos canais de televisão portugueses ditos "generalistas", não poderei escrever: não estão nos meus hábitos. Os alegadamente "de informação", portugueses também, se já dedicavam à bola, nesses tempos de seca (isto é, de mero campeonato, ou taça, nacional, ou - pior! - de "defeso" ou lá como se lhe chama) uma proporção arrepiante do seu tempo de emissão e uma parte absurda da "informação" que proporcionam, em permanente genuflexão incondicional perante a deusa Bola e os seus ungidos, agora estão numa agitação e êxtase sublimes: o proselitismo alastra incontido. 

O que é verdadeiro serviço ao Poder de turno (não se lhe chame serviço público, por um módico de pudor que, espera-se, ainda restará), prestado aliás, certamente, com incondicional obediência, fervorosa devoção e agradecido servilismo. 

Muito a tempo, aliás. Este campeonato jogado em "tempo de futebol", coisa tentacular e regrada por um calendário agora revelado e que, decerto, um dia será oficial nas nossas vidas, veio mesmo a tempo. Dá sempre jeito à política, a bola. E vice-versa: a coisa é consagradamente recíproca.

Para gáudio das massas.

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