Tudo normal.
O Mundo Ocidental, a Civilização, essa coisa absolutamente abominável e de que tanto mais se gosta, e é de bom tom, de dizer mal quanto mais dele, graças a ele, se pode dele dizer mal livremente - e até viver, no exercício dessa importantíssima actividade - liberalmente à sua custa, sofre por estes dias o que se sabe para os muito confortavelmente distantes lados do Afeganistão (a esquerda, evidentemente, preclara como só ela por divino condão sabe ser, já atribuiu lapidarmente a culpa disso tudo precisamente ao Mundo Ocidental; o maniqueísmo tem destas tranquilizadoras certezas). E eis que para lá disso e das mortes que verdadeiramente contam por estes dias - as covidianas, claro - um tal de Ronaldo vai dar pontapés na bola - actividade absolutamente essencial para o devir da espécie -, fazendo-se por isso pagar escabrosamente e até cometendo, com soberana e plácida indiferença, o ocasional delito fiscal, para Manchester.
Gáudio mal contido para a comunicação dita social e extâse para um bando de tolos que, anunciam os telejornais, se junta a esta hora em cretina adoração junto à morada (uma delas, enfim) do ídolo máximo do embrutecimento e da ignorância mais arrogante e triunfante que por aí floresce.
Tudo normal.