Bando de masoquistas.
Em fundo, os canais televisivos ditos de informação: a questão do orçamento do estado e a sua - neste momento - quase certa rejeição, amanhã, pelo parlamento. Do que daí possa vir não guardo ilusões: passe ou não passe o orçamento, a - para todos os efeitos práticos - falência da república, mais uma, é a certeza que podemos ter. Essa certeza e a de que os de sempre pagarão o que houver a pagar. E vai haver. E muito.
De modo que com esse brouhaha em fundo, esse extâse malcontido de tudólogos, vou lendo "Um político confessa-se" de Franco Nogueira (em exemplar muito laboriosamente conseguido num alfarrabista). Cultivava-se a língua, nesse tempo; escrevia-se bem, pense-se deles o que se pensar; e que lição de história contemporânea há nessas páginas. Enfim, e citando Torga, "a execrável tirania de há pouco tinha ao menos o mérito de ser frontal, culta e respeitar o inconsciente do povo português. Esta de agora é sorna, analfabeta e agride e ofende diariamente o que de mais profundo e sagrado há em nós".
É trágico que o povo português goste que seja assim. Mas gosta. E reiteradamente. Se do que por estes dias se passa vier uma substantiva mudança de poder, coisa em todo o caso muito longe de certa, será - se o passado recente serve de alguma coisa - breve e finita mudança. Bando de simplórios masoquistas.