Um reaccionário sem redenção.
Passa pouco das dez da noite e, num consagrado "canal de notícias", uma jovem e um jovem peroram convictamente sob a moderação de uma terceira jovem. É fácil qualificá-los aos três como "jovens": por estes dias é-se "jovem", oficialmente, até cada vez mais tarde. Ora politicamente, ideologicamente, estou muito mais perto do jovem comentador do que da jovem comentadora; ambos decerto tidos como líderes de opinião, ou não teriam, creio, aquele hebdomadário ofício à sua espera.
Isto assente, vejo-os aos dois - esses líderes de opinião - a palestrarem o seu sermão aos seus convertidos e, enquanto "o plano abre", vejo-os de sapatos de ténis ("sapatilhas" ou que lhes quiserem chamar) e calças de ganga ("jeans", chama-se-lhes). "Ténis" e "jeans", envergados por líderes de opinião, enquanto tal e vertendo doutos, lapidares e tremendíssimos sermões sobre o país, o mundo e as magnas questões que nos coloca o futuro. Falando potencialmente para milhões (embora creia eu que os milhões na verdade se interessavam, nessa hora, por outro tipo de oferta televisiva), calçando sapatos de ténis e vestindo "jeans" ("pre-washed", acho que se lhes chamam; às calças, claro).
Muito bem: nada tenho a ver com eles. As minhas noções de "gravitas", de dignidade, de estadismo - real ou potencial, como poder que se é ou poder que se pode e quer vir a ser - nada têm a ver com as noções deles. Serei então um reaccionário sem redenção. Seja. Mas muito útil, afinal: uns foram ou são donos disto tudo; eu paguei, pago e pagarei isto tudo, saqueado reiterada e impunemente que sou pelo fisco. Para que estes jovens, que duvido saibam o que seja isso de pagar e pagar, tudo, sempre e muito caro, brilhem. À direita e à esquerda.