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Sobrevive-se

Sobrevive-se

24
Jun22

O plano de contingência.

Costa

Importante, parece, é não adoecer em Agosto. Porque, enfim, os médicos estarão presumivelmente em gozo de férias. Isso e evitar praias fluviais. E em todo o caso, antes e depois disso, como medida de elementar precaução, não comer bacalhau à Braz em piqueniques. Sobretudo não comer bacalhau à Braz em piqueniques. Além de que deveremos sempre ter connosco uma garrafa de meio litro de água: não vá acabarmos o dia com uma espera de nove horas - creio que foi o período invocado (e decerto optimista) - numa urgência hospitalar. Onde pelos vistos esperar nove horas é coisa tida como absolutamente natural pela directora-geral da saúde. E mais natural ainda que nessas nove horas não haja um copo de água, a menos que o paciente - perdão, o "utente" - o traga consigo. E se não trouxer, deduz-se, a culpa é dele e o esforço assim imposto ao SNS intolerável.

Eu acho que percebi bem. Seja, então, é o plano de contingência do SNS. E é a excelência da acção governativa portuguesa.

06
Jun22

E cerrar-lhe os olhos.

Costa

Recordo, já pouco mais posso escrever do que isso: uma recordação, sem uma pesquisa que não saberia fazer, do que Vasco Pulido Valente escreveu, ao tempo, sobre a iniciativa do Expresso. Essa de convidar escritores a concluir, a prosseguir até um final que entendessem apropriado, Os Maias. E, devoto de Eça e d'Os Maias, incondicionalmente concordei. Era heresia, heresia pura e simples, tocar nessa obra máxima. Pretender continuá-la. Há coisas que, porque tão perto da perfeição, manda a mais elementar sensatez - essa, pelo menos - que permaneçam intocadas. Lá, onde ficaram. O seu fim foi, é, o que o autor entendeu. 

Pulido Valente concedia, é certo (e fio-me na minha memória, nada mais), que de tudo o que então se escreveu e o Expresso diligentemente publicou, o texto de José Rentes de Carvalho seria o único que poderia reclamar alguma dignidade na continuação, aceitando-se que ficara incompleta ou que lhe seria legítimo propôr outro fim, dessa obra de Eça de Queiroz. E li, então, disponível na internet, "O Rio somos nós". Há longos anos, nove, creio.

Deixou esse texto de estar disponível "online". Ou não o soube eu, aí, recuperar. Eu, queirosiano e rentiano na devoção (tolere-se a presunção, pois não reúno méritos para me arrogar tais qualificativos, apenas esse de devoção pela escrita de um e de outro), há pouco tempo, em alfarrabista, consegui exemplar de "Os Novos Maias", esse - o 2º fascículo, creio assim poder chamar-lhe - que contém o texto de Rentes de Carvalho, O Rio somos nós, e de Mário Zambujal, O imenso pulo de Carlos da Maia. E relido um e lido o outro, fico-me pelo primeiro. Os outros não conheço. E não o lamento.

A perturbar o sagrado que tal seja por quem magnificamente invoca o Douro. E um Carlos da Maia e um João da Ega num ocaso que só poderia ser o deles tanto quanto o imaginaríamos (se isso nos for legítimo) na pena de Eça.  "Lá fundo (...) O rio somos nós, as nossas raivas e faltas, desejos, ambições, a pressa, desinteressados de como vamos, ignorando em que oceano nos iremos afogar. Sim, o rio somos nós."

Até ao momento de apertar o amigo num abraço e cerrar-lhe os olhos.

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