Recordo, já pouco mais posso escrever do que isso: uma recordação, sem uma pesquisa que não saberia fazer, do que Vasco Pulido Valente escreveu, ao tempo, sobre a iniciativa do Expresso. Essa de convidar escritores a concluir, a prosseguir até um final que entendessem apropriado, Os Maias. E, devoto de Eça e d'Os Maias, incondicionalmente concordei. Era heresia, heresia pura e simples, tocar nessa obra máxima. Pretender continuá-la. Há coisas que, porque tão perto da perfeição, manda a mais elementar sensatez - essa, pelo menos - que permaneçam intocadas. Lá, onde ficaram. O seu fim foi, é, o que o autor entendeu.
Pulido Valente concedia, é certo (e fio-me na minha memória, nada mais), que de tudo o que então se escreveu e o Expresso diligentemente publicou, o texto de José Rentes de Carvalho seria o único que poderia reclamar alguma dignidade na continuação, aceitando-se que ficara incompleta ou que lhe seria legítimo propôr outro fim, dessa obra de Eça de Queiroz. E li, então, disponível na internet, "O Rio somos nós". Há longos anos, nove, creio.
Deixou esse texto de estar disponível "online". Ou não o soube eu, aí, recuperar. Eu, queirosiano e rentiano na devoção (tolere-se a presunção, pois não reúno méritos para me arrogar tais qualificativos, apenas esse de devoção pela escrita de um e de outro), há pouco tempo, em alfarrabista, consegui exemplar de "Os Novos Maias", esse - o 2º fascículo, creio assim poder chamar-lhe - que contém o texto de Rentes de Carvalho, O Rio somos nós, e de Mário Zambujal, O imenso pulo de Carlos da Maia. E relido um e lido o outro, fico-me pelo primeiro. Os outros não conheço. E não o lamento.
A perturbar o sagrado que tal seja por quem magnificamente invoca o Douro. E um Carlos da Maia e um João da Ega num ocaso que só poderia ser o deles tanto quanto o imaginaríamos (se isso nos for legítimo) na pena de Eça. "Lá fundo (...) O rio somos nós, as nossas raivas e faltas, desejos, ambições, a pressa, desinteressados de como vamos, ignorando em que oceano nos iremos afogar. Sim, o rio somos nós."
Até ao momento de apertar o amigo num abraço e cerrar-lhe os olhos.