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Sobrevive-se

Sobrevive-se

26
Set22

Não é mau.

Costa

"Uma comissão, já antes de 1968, estudara nos arredores de Lisboa as várias localizações possíveis para o novo aeroporto e pronunciou-se pela Herdade de Rio Frio perto do Montijo (...). Criou-se o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa que começou a trabalhar activamente nos estudos e projectos (...). O programa previa o início da exploração do novo aeroporto em 1978, o qual ficaria ligado a Lisboa pela auto-estrada de Setúbal, além da via férrea que passaria no segundo tabuleiro previsto para a Ponte Salazar. A 40 km da capital, na margem esquerda do Tejo, o novo aeroporto teria excelentes perspectivas de futuro sem incómodo para os centros urbanos existentes." Marcello Caetano, Depoimento, Dist. Record,  Rio de Janeiro,1974, p.107.

O novo aeroporto de Lisboa teria portanto início de exploração previsto para 1978. Há dias, Setembro de 2022, primeiro-ministro e líder da oposição, felicitaram-se pelo atingimento de um acordo quanto "à metodologia" que o estudo da questão (ex novo, dir-se-á então) exige e terá sido finalmente - e em exercício de desinteressado e abnegado estadismo - atingido. Acorda-se assim, agora, na "metodologia" e assinala-se o facto com a solenidade de um notável passo no devir pátrio. Muito naturalmente, milhões e milhões de euros de dinheiro público depois de afinal, parece, coisa nenhuma. E a outras sucedendo-se-lhes, agora, nova comissão; fatalmente.

No final da década de 1960, as comissões eram nomeadas com um propósito. E pronunciavam-se sobre ele. Uns anos depois houve um, digamos, radical "pronunciamento". E largas dezenas de anos depois, há então que voltar à metodologia do tema.

Vá lá que entretanto se levou a auto-estrada até Setúbal e se instalou a ferrovia no segundo tabuleiro da ponte. O resto, tem finalmente, metodologia. Não é mau, tudo visto.

11
Set22

Vinte e um anos.

Costa

Outros acontecimentos e, admita-se, talvez muito naturalmente, reclamaram hoje primazia; por fundamentos mais ou menos profundos, mais ou menos fúteis. O que não é necessariamente deplorável. E a memória não é tão sólida, talvez, quanto deveria ser (mas haverá sempre quem recorde sem hesitação a constituição de uma equipa de futebol, o resultado e os momentos capitais de um jogo de futebol - de futebol, claro - havido há umas boas décadas atrás; que é, bem se sabe, o que verdadeiramente interessa).

Em todo o caso, passam hoje vinte e um anos.

01
Set22

Da vergonha.

Costa

Visitar a feira do livro de Lisboa (qualquer feira do livro, é de crer) vai sendo de forma crescente - e muito infeliz - uma experiência quase masoquista: a cada ano cresce a tirania do AO90. Foi aliás esclarecedora, embora nada surpreendente, a resposta da senhora (educadíssima, devo notar) no pavilhão da assembleia da república - e escrevo assim, sem maiúsculas, deliberadamente, pois há dignidades que têm que ser merecidas - perante a minha tristeza ao ver vertida em AO90 uma de outra forma decerto muito interessante colecção sobre figuras do parlamentarismo português: que era obrigatório, que já nem valia a pena pensar nisso e que já havia milhares de criancinhas ensinadas nessa "norma". Balbuciei, desesperançado, que talvez fosse obrigatório para ela e para quem depende directamente do governo e do parlamento (e, desgraçadamente, da presidência da república; veja-se a infâmia do prefácio de Rebelo de Sousa em "podia ter sido pior"; por alguma razão expressamente identificado como o único texto dessa preciosa colectânea vertido em acordês), mas essa obrigatoriedade acabava aí; e mesmo aí era falsa, ilegal, por mero efeito de básica hierarquia de normas. Conhecida aliás, pois que seguramente a ensinou anos e anos, pelo "mais alto magistrado da nação" e pelo primeiro-ministro de turno que, consta, terá sido dos melhores alunos daquele. Rosnei - em fúria impotente, perante tão abjecta submissão, e quanto às criancinhas - que o simples perpetuar de um erro, pior, de um crime, o não sana. E segui, verdadeiramente envergonhado de ser português e daquele "orgão de soberania" que alegadamente - termo da moda mas aqui tão apropriado - me representa.
Lá voltarei, contudo, à feira. Creio que, com cada vez mais reduzidas excepções, me vou confinar - outro e muito patriótico termo da moda - a alfarrabistas. Até que também aí o acordês domine.

Mas talvez já cá não esteja

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