Não é mau.
"Uma comissão, já antes de 1968, estudara nos arredores de Lisboa as várias localizações possíveis para o novo aeroporto e pronunciou-se pela Herdade de Rio Frio perto do Montijo (...). Criou-se o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa que começou a trabalhar activamente nos estudos e projectos (...). O programa previa o início da exploração do novo aeroporto em 1978, o qual ficaria ligado a Lisboa pela auto-estrada de Setúbal, além da via férrea que passaria no segundo tabuleiro previsto para a Ponte Salazar. A 40 km da capital, na margem esquerda do Tejo, o novo aeroporto teria excelentes perspectivas de futuro sem incómodo para os centros urbanos existentes." Marcello Caetano, Depoimento, Dist. Record, Rio de Janeiro,1974, p.107.
O novo aeroporto de Lisboa teria portanto início de exploração previsto para 1978. Há dias, Setembro de 2022, primeiro-ministro e líder da oposição, felicitaram-se pelo atingimento de um acordo quanto "à metodologia" que o estudo da questão (ex novo, dir-se-á então) exige e terá sido finalmente - e em exercício de desinteressado e abnegado estadismo - atingido. Acorda-se assim, agora, na "metodologia" e assinala-se o facto com a solenidade de um notável passo no devir pátrio. Muito naturalmente, milhões e milhões de euros de dinheiro público depois de afinal, parece, coisa nenhuma. E a outras sucedendo-se-lhes, agora, nova comissão; fatalmente.
No final da década de 1960, as comissões eram nomeadas com um propósito. E pronunciavam-se sobre ele. Uns anos depois houve um, digamos, radical "pronunciamento". E largas dezenas de anos depois, há então que voltar à metodologia do tema.
Vá lá que entretanto se levou a auto-estrada até Setúbal e se instalou a ferrovia no segundo tabuleiro da ponte. O resto, tem finalmente, metodologia. Não é mau, tudo visto.