Volta-se ao tema, pois que o mesmo tem uma relevância fora de toda a proporção e que nos é reiteradamente imposta.
É certo, choveu bastante - choveu muito, aceite-se - e, para além daquilo que o curso da Natureza sempre causasse, as consequências de décadas e décadas de crime urbanístico passaram, uma vez mais, de potenciais a consumadas (a coisa, tudo visto, é regular e os responsáveis privados ou públicos por tais crimes, por acção ou omissão, esses, claro, ou já mortos ou sempre impunes). O governo anunciará, parece, lá para quinze de Janeiro a definição das ajudas a prestar. Por essa altura, admitindo que seja nessa altura (se há quem determine e incumpra prazos em absoluta impunidade é o estado), entre a míngua das mesmas, o calvário das armadilhas burocráticas e as cínicas exclusões, a coisa acabará com toda a probabilidade por ser um exercício de demagogia sem escrúpulos. Mais um. E pouco mais.
Nada de novo por aí, com todo o respeito por quem tudo ou muito perdeu: que não se tenha ilusões, é tudo.
Entretanto - e eis "o tema" - a comunicação social (e essa coisa das "redes sociais") revolve incansavelmente a questão da não titularidade do jogador no jogo de há dias, e se este ameaçou ou não abandonar a selecção-que-se-não-precisa-dizer-de-quê, e que todos os portugueses carregam no seu coração em absoluta adoração, porque sim, isto de acordo com a doutrina governamental, bem como as declarações sobre o tema do seleccionador da dita (que cabe perguntar, às tantas, e perante as mesmas, se não teme ser linchado). Isso e o exibicionismo sem freios da sua namorada, lá pelo deserto, decerto muito apreciado, bem como as reacções da sua família, manifestadas aliás com elevado sentido de elegância. Parece que há novo jogo amanhã, pelo que é de admitir que, a menos que outra e bem séria enxurrada ocorra nas próximas horas, a coisa ("as cheias"), já a partir dos serões televisivos desta noite, esteja - salvo para quem verdadeiramente passou por ela - remetida para uma memória muito oportunamente mais e mais distante.
Entretanto, hoje também, outra coisa segue pacatamente o seu caminho: a lei da eutanásia. Sei que designá-la assim parecerá a muito boa gente uma opção de simplismo reaccionário (em todo o caso, se há o direito de se ser progressista, essa superior condição purificadora pelos padrões bem pensantes, é bom que o haja também de se ser reaccionário). Mas as coisas são como são e chamar-lhe "morte medicamente assistida", ou fórmula afim, sendo talvez um imprescindível requisito formalístico - alguma solenidade, mesmo que gongórica, é sempre requerida na legiferação - vai dar ao mesmo: à morte. Num plano de discussão puramente teórica, abstracta, não ouso questionar o desespero - que não sei imaginar, ainda que tenha acompanhado, na esfera familiar, casos de penosíssima decadência: para quem a sofreu e para quem se esgotou, na verdade se destruiu, a ampará-la quanto possível - de quem vê sempre adiado um fim que, se alguma coisa, seria apenas um piedoso e desejado alívio.
Isto, num plano abstracto, dos princípios, de discussão alguns dirão ociosa. Num plano concreto, mais do que o abrir de uma caixa de Pandora e atendendo ao universo pátrio (isto é: estamos em Portugal, convirá não esquecer), e indo isto mesmo para a frente, veremos se não acabaremos por estar perante um mais e mais pressionado "convite a morrer". A um dever de morrer. Uma solução não confessada para a questão dos cuidados paliativos (se não antes mesmo deles); que são afinal, bem se sabe, uma fonte de mais e mais despesa.
Importante, contudo, bem o sabemos, é o jogo que aí vem. E se nele o jogador será ou não "titular".
(Ah, os noticiários das 18:00, até na Antena 2..., abrem com a eliminação do Brasil).