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Sobrevive-se

Sobrevive-se

31
Dez22

Que não seja (muito) pior.

Costa

Faz parte. Será sincera manifestação, automatismo já acrítico, imposição dos costumes, imperativo de educação. Há uns anos, num cartão de boas festas ou num telefonema parcimoniosamente gerido; pois os "períodos" contavam e pagavam-se. Agora em enxurrada de "sms", "whatsapps", coisas afins. Tantos com o genuíno esforço e genuinidade de um reencaminhamento de reencaminhamentos. Quase todos com animações, desenhos ou fotografias mais ou menos felizes, infantilizantes ou apenas cretinos (quase sempre em inglês, ou em regra, por cá, em "brasileiro").

Mas desejá-los felizes, excelentes, cheios dos mais bondosos superlativos próprios da época, os próximos doze meses, chegados onde chegámos e face ao que todos sentem e quase todos antecipam, não sendo assustadora ignorância do que exuberantemente nos rodeia, fé fanatizada nos que por cá dizem nos ir governando, ou cinismo, há-de ser ingenuidade.

Momentos felizes, todos decerto teremos. Felizmente. Mas momentos. O ano - e que seja com saúde, enfim - será de cerrar os dentes, tentar conter danos e continuar. E que não seja (muito) pior do que este que acaba. 

28
Dez22

É assim...

Costa

É bem certo que não é fácil esquecer a coisa, tão abundantes têm sido as circunstâncias que permitem a sua invocação plena de actualidade. Isto (e com especial sensação de impotência) aceite, o caso dos últimos dias demonstra especialmente essa grande máxima do nosso republicanismo laico, tal como certeira e preciosamente formulada nos idos de 2006 por esse seu bastião intelectual que foi Joaquim Pina Moura: aquela segundo a qual a ética republicana é a ética da lei.

E nem os desenvolvimentos das últimas horas lhe retiram a plena aplicabilidade e valor de dogma socialista (e por isso, nem que à força, de toda a sociedade), já que a demissão por si, ainda que constituindo um absoluto mínimo imperativo, nada resolve, justiça alguma repõe, vício algum sana. Impunha-se, com ou sem esta questão da indemnização, pois - coisa de que ninguém aparentemente se lembrou; ou se lembrou até muito bem - sem ela se colocaria em boa medida nas mãos de alguém que até há ainda bem pouco tempo trabalhara, e em funções de liderança, numa empresa a sua desejavelmente próxima privatização. Mas sem outras consequências e num plano mais vasto, mais não é do que proporcionar em mentes básicas algum alívio imediato, superficial, breve, num mal bem mais profundo, espalhado, que anda por aí em dimensão bem vasta e decerto mal conhecida. É, sem mais, uma justiça de justiceiro: imediata, superficial, primária e puramente vindicativa e sem nada mudar de fundo.

É atacar um cancro com aspirinas: o cancro agradece. É na cansada - apenas porque tantas vezes validada - fórmula, ensinada pela literatura italiana, algo mudar para que tudo fique na mesma.

Ou, nas resignadas palavras do sr. presidente desta república quando inicialmente se referiu ao caso: "é assim..."

19
Dez22

Das virtudes patrióticas da doença ou do vício, já descarado, da esmola.

Costa

Final de tarde. Numa estação de rádio, um sr. secretário de estado (ligado ao ensino, suponho; não acompanhei a coisa desde o início e por uma questão de higiene não a segui até ao fim; valha, ainda que ela também "politicamente corrigida", a Antena 2) perora sobre a questão das propinas no ensino. O ensino superior, se bem percebi, mas não - se bem percebi, também - exclusivamente. Dizia o sr. secretário de estado, supõe-se que sem um esgar de embaraço, que as propinas, não aumentando, verdadeiramente desciam. Coisas da inflação, deduz-se. E também por aí, na demagogia e na hipocrisia, o estado ganha. Que diabo, não haveria de ser apenas no plano fiscal.

Anuncia ainda o sr. secretário de estado uma breve e substancial melhoria na questão do alojamento dos estudantes. Graças, nem mais nem menos, ao tal PRR. Ou seja, a uma coisa que surge na sequência, a aceitar obedientemente a versão do poder de (longo) turno, de um grande mal, uma tremenda pandemia, uma tragédia que ficará na história. De modo que o tal do PRR, ao que parece, mais do que servir para a recuperação dos concretos danos causados por essa pandemia, servirá - assim o esperamos, em incorrigível ingenuidade (tirando isso, como explicar, sem insulto, a recorrente escolha do Soberano - o eleitor -, por cá?) - para acudir a obrigações públicas, desde logo perante a insaciável voracidade fiscal dominante, que deveriam ser cumpridas como mera rotina de uma medianamente diligente acção governativa. Sem necessidade de uma pandemia apresentada como, quase, do fim do mundo e de um (mais um) generoso banho de dinheiros "da Europa". Que, naturalmente, se esgotará.

Percebe-se também por aqui a pressa, há ainda não muito tempo, de ir com o cheque ao banco.

11
Dez22

Do mundo real.

Costa

Há mais mundo. Há mais mundo, para lá das "stories" do "instagram" e afins. E creiam  - por muito, muito estranho que pareça - que é duro, esse mundo. O mundo real.

Mais tarde ou mais cedo, hão-de o perceber.

09
Dez22

Da importância das coisas.

Costa

Volta-se ao tema, pois que o mesmo tem uma relevância fora de toda a proporção e que nos é reiteradamente imposta.

É certo, choveu bastante - choveu muito, aceite-se - e, para além daquilo que o curso da Natureza sempre causasse, as consequências de décadas e décadas de crime urbanístico passaram, uma vez mais, de potenciais a consumadas (a coisa, tudo visto, é regular e os responsáveis privados ou públicos por tais crimes, por acção ou omissão, esses, claro, ou já mortos ou sempre impunes). O governo anunciará, parece, lá para quinze de Janeiro a definição das ajudas a prestar. Por essa altura, admitindo que seja nessa altura (se há quem determine e incumpra prazos em absoluta impunidade é o estado), entre a míngua das mesmas, o calvário das armadilhas burocráticas e as cínicas exclusões, a coisa acabará com toda a probabilidade por ser um exercício de demagogia sem escrúpulos. Mais um. E pouco mais.

Nada de novo por aí, com todo o respeito por quem tudo ou muito perdeu: que não se tenha ilusões, é tudo.

Entretanto - e eis "o tema" - a comunicação social (e essa coisa das "redes sociais") revolve incansavelmente a questão da não titularidade do jogador no jogo de há dias, e se este ameaçou ou não abandonar a selecção-que-se-não-precisa-dizer-de-quê, e que todos os portugueses carregam no seu coração em absoluta adoração, porque sim, isto de acordo com a doutrina governamental, bem como as declarações sobre o tema do seleccionador da dita (que cabe perguntar, às tantas, e perante as mesmas, se não teme ser linchado). Isso e o exibicionismo sem freios da sua namorada, lá pelo deserto, decerto muito apreciado, bem como as reacções da sua família, manifestadas aliás com elevado sentido de elegância. Parece que há novo jogo amanhã, pelo que é de admitir que, a menos que outra e bem séria enxurrada ocorra nas próximas horas, a coisa ("as cheias"), já a partir dos serões televisivos desta noite, esteja - salvo para quem verdadeiramente passou por ela - remetida para uma memória muito oportunamente mais e mais distante.  

Entretanto, hoje também, outra coisa segue pacatamente o seu caminho: a lei da eutanásia. Sei que designá-la assim parecerá a muito boa gente uma opção de simplismo reaccionário (em todo o caso, se há o direito de se ser progressista, essa superior condição purificadora pelos padrões bem pensantes, é bom que o haja também de se ser reaccionário). Mas as coisas são como são e chamar-lhe "morte medicamente assistida", ou fórmula afim, sendo talvez um imprescindível requisito formalístico - alguma solenidade, mesmo que gongórica, é sempre requerida na legiferação - vai dar ao mesmo: à morte. Num plano de discussão puramente teórica, abstracta, não ouso questionar o desespero - que não sei imaginar, ainda que tenha acompanhado, na esfera familiar, casos de penosíssima decadência: para quem a sofreu e para quem se esgotou, na verdade se destruiu, a ampará-la quanto possível - de quem vê sempre adiado um fim que, se alguma coisa, seria apenas um piedoso e desejado alívio.

Isto, num plano abstracto, dos princípios, de discussão alguns dirão ociosa. Num plano concreto, mais do que o abrir de uma caixa de Pandora e atendendo ao universo pátrio (isto é: estamos em Portugal, convirá não esquecer), e indo isto mesmo para a frente, veremos se não acabaremos por estar perante um mais e mais pressionado "convite a morrer". A um dever de morrer. Uma solução não confessada para a questão dos cuidados paliativos (se não antes mesmo deles); que são afinal, bem se sabe, uma fonte de mais e mais despesa.

Importante, contudo, bem o sabemos, é o jogo que aí vem. E se nele o jogador será ou não "titular".

(Ah, os noticiários das 18:00, até na Antena 2..., abrem com a eliminação do Brasil). 

 

06
Dez22

Da bola, por estes dias.

Costa

Não fui tocado pela Graça do futebol, o que faz de mim aos olhos de muita, e muito certa, gente um ser mais proscrito do que um um leproso. Vivo bem com isso e ainda que tal me custasse a companhia de muitos que me são queridos (a companhia não custou, ainda; algum desconforto e perene arrefecimento das relações, já), não creio que venha a mudar a minha convicção de que a interdição do futebol, a inversão do ónus da prova quanto aos dinheiros nele envolvidos e a actuação de dirigentes e governantes em seu torno (dirigentes, governantes e não só; e nada de rasgar as vestes, pois o fisco já o faz há muito quanto a todos nós, anónimos cidadãos nunca suficientemente saqueados), a demolição generalizada dos estádios com a obrigatoriedade da conversão dos seus terrenos em jardins ou outros espaços de verdadeira utilidade pública (e, definitivamente, não em urbanizações, ou bombas de gasolina), seriam medidas de verdadeira regeneração social. Moral, pelo menos.

Depois, uns anos depois, talvez fosse de permitir a gradual reintrodução da prática da modalidade desportiva - nada contra ela e, sim, mil vezes uns putos ao pontapé na bola em lugar de a fumar ou injectar o que se sabe - mas estritamente num plano amadorístico.

Isto posto e não sendo felizmente nem cego, nem surdo, nem anacoreta não me é possível alhear deste sinistro e venal circo, impune e acima da lei, instrumento precioso de um geral e mal disfarçado propósito de embrutecimento massivo das gentes (o ópio - a pretexto disso do "ópio do povo" -, perante a bola, é um rebuçado que talvez cause a ocasional cárie; mas rebuçados até já os há sem açúcar).

Julgo por isso não estar completamente enganado se disser que hoje se descobriu que, afinal, a selecção portuguesa do pontapé na bola (veja-se que usualmente se lhe chama a "selecção nacional", sendo até perfeitamente dispensável dizer de quê) não é composta por um só profissional da coisa; que será, ou foi, tão bom na matéria como o é a exibir - com bem pouco bom senso e pudor - o dinheiro que ganha e, parece, será a "castrar" profissionalmente todos os colegas à sua volta. Que hoje se descobriu e isso e que alguém, hoje também, teve o bom senso de fazer ministrar uma lição de humildade.

O que raras vezes é desadequado.

 

 

 

 

 

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