Os políticos
Os políticos não vivem no mesmo lugar em que nós vivemos, com as mesmas regras e os mesmos fins. O que nós achamos falso ou irracional, eles acham verdadeiro e lógico; o que nós achamos imoral ou indigno, eles acham com certeza conveniente e necessário; o que nós chamamos princípios ou moral (detestável palavra), eles consideram pretensão, irrealismo ou comédia. (Às Avessas, Vasco Pulido Valente, 1990; texto original de 1984)
O livrito (porque breve) foi, por um acaso, salvo do lixo, no "desmanchar" de uma casa cujo herdeiros pouca - se alguma - preocupação manifestavam pela biblioteca que se perdia. O fragmento acima é parte de um texto de 1984, incluído nessa colectânea que se começou a ler por estes dias. Antes, em todo o caso, dessa espécie de novo momento alto da longa ópera bufa - trágica, sobretudo - que a venal e nepotista ética republicana e socialista nos vem oferecendo impenitentemente. E tem, na sua extraordinária limpidez e precisão - sem uma palavra a mais, sem um dispensável adorno de desnecessária erudição -, tanto a ver com tudo isso e com certas declarações ontem solenemente vertidas às ignaras (e por isso mesmo) massas.
Muita falta faz o Grande Ausente.