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Sobrevive-se

Sobrevive-se

06
Jan24

Distopia

Costa

O ângulo, a fotografia feita de um reverencial plano inferior; o líder - só - dominando a partir do seu púlpito; o rosto fechado, solene e a que a barba acentua a severidade da expressão. Em fundo, atrás dessa temível figura - um outro "animal feroz?" -, a mesma composição na dimensão bem maior que a tecnologia facilita.Isto ilustrando, em dois jornais "online", certo congresso partidário que se por cá cumpre, por estes dias, com farisaica precisão litúrgica. 

Nada de novo. A História contemporânea está cheia disto. Um clássico, aliás, da ficção distópica. Leram-na, os delegados ao congresso? E tendo-a lido, entenderam-na?

12
Nov23

Os políticos

Costa

Os políticos não vivem no mesmo lugar em que nós vivemos, com as mesmas regras e os mesmos fins. O que nós achamos falso ou irracional, eles acham verdadeiro e lógico; o que nós achamos imoral ou indigno, eles acham com certeza conveniente e necessário; o que nós chamamos princípios ou moral (detestável palavra), eles consideram pretensão, irrealismo ou comédia. (Às Avessas, Vasco Pulido Valente, 1990; texto original de 1984)

O livrito (porque breve) foi, por um acaso, salvo do lixo, no "desmanchar" de uma casa cujo herdeiros pouca - se alguma - preocupação manifestavam pela biblioteca que se perdia. O fragmento acima é parte de um texto de 1984, incluído nessa colectânea que se começou a ler por estes dias. Antes, em todo o caso, dessa espécie de novo momento alto da longa ópera bufa - trágica, sobretudo - que a venal e nepotista ética republicana e socialista nos vem oferecendo impenitentemente. E tem, na sua extraordinária limpidez e precisão - sem uma palavra a mais, sem um dispensável adorno de desnecessária erudição -, tanto a ver com tudo isso e com certas declarações ontem solenemente vertidas às ignaras (e por isso mesmo) massas. 

Muita falta faz o Grande Ausente.

08
Nov23

A crise política e suas graves preocupações.

Costa

Nada de novo: nos sucessivos, imparáveis, torrenciais debates e comentários que nos são servidos pelas estações de televisão (no caso, SIC Notícias e CNN Portugal; a coisa não variará muito, decerto, no tempo que as restantes, generalistas, nacionais, dediquem ao noticiário), desde algures pela manhã de ontem, a grande preocupação - logo seguida pela sorte dos fundos do PRR (se vão ser aplicados, melhor, derretidos, ou não, porque sendo-o já se sabe que o serão pela insaciável coisa pública e sob critérios especialmente peculiares) - de boa parte dos preocupadíssimos comentadores, especialistas e politólogos é o efeito disto tudo sobre a proposta do orçamento do estado no que concerne às promessas a seu propósito feitas ao funcionalismo público e aos pensionistas.

Ou seja, as promessas de aumentos do costume aos destinatários do costume, para sossegar os do costume. Os que, a todo o custo, não convém irritar. Os que decidem eleições, ganhas por quem cai nas suas boas graças. Ou pelo menos no seu resignado apoio. O resto - os outros, os que vão pagando isso tudo, isto tudo - pouco interessa. Pode esperar e nada ter.

E, claro, como e quando se entender necessário, pagar mais.

18
Out23

Escorrências

Costa

"Ninguem parecia ter uma noção exacta de reformas definidas: mas todos, vagamente, confiavam que da Republica escorreria a felicidade publica, penetrando todas as classes, até os mais obscuros casebres, com a fecunda universalidade da luz que cahe d'um astro."

Assim mesmo, na grafia do tempo - 1926, em edição, naturalmente póstuma, que tive, tenho, a felicidade de ter em mãos, da Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, Lda. (assim grafado) - de A Capital. O autor, escuso de o nomear (que não lhe dão paz, os detentores desta república, sequer aos ossos). 

07
Out23

O Jerusalem

Costa

Passaram ontem, cinquenta anos sobre o início da guerra do Yom Kippur. Diz-se também aí que Israel foi apanhado de surpresa. O resultado é conhecido. 

Está ali, numa estante, O Jerusalem!, de Dominique Lapierre e Larry Collins. Talvez lá volte, por estes dias.

05
Out23

Das desgraças.

Costa

A república, "implantada" (é o termo consagrado) da democrática e civilizada forma que se sabe, comemora hoje mais um aniversário. A populaça, metodicamente embrutecida, agradece o feriado e irá até à praia que a coisa é de "ponte" e o Verão, para nossa desgraça, não acaba. Os políticos, uns de já bem longo turno no poder, outros desejando-o impacientemente, todos fervorosamente republicanos, cumprirão mais um dia dessa liturgia da mentira de que dependem para subsistir (para eles, enfim, o dia será "útil"; uma maçada que há que suportar).

Nem de propósito, de embrutecimento em embrutecimento, metodicamente preparado, Portugal vai então, soube-se ontem, enterrar-se no lamaçal - sem dúvida muitíssimo lucrativo para os do costume - de mais um campeonato, agora mundial, do sórdido pontapé (profissional) na bola. Pagarão do costume, evidentemente. Mas os do costume, a populaça, gostam. O que muito naturalmente tranquiliza beatificamente os que lucram.

Uma desgraça (a primeira, acima, já bem longa), de facto, nunca vem só.

 

 

 

 

16
Set23

Nem de propósito.

Costa

O homem é de índole expansiva e aquilo dos afectos - independentemente da sua já quase lendária maestria na coisa - haveria de ricochetear, tarde ou cedo. A versão local do cada vez mais omnipresente Ministério da Prevenção do Vício e Promoção da Virtude, versão woke (donde, acima de escrutínio), não deixaria passar um primeiro deslize. Desde que, claro, o fosse perante o seu index, simultaneamente mais e mais abrangente e restritivo (não é contradição). O que possam pensar as destinatárias desses deslizes é, aliás, absolutamente irrelevante, as directoras espirituais da Santa Inquisição destes dias não perdem tempo com bagatelas.

Era, simplesmente, questão de tempo. Já está.

O seu antecessor de Boliqueime pensará, talvez, que a sua visão da reserva institucional do homem de Estado sai reforçadamente justificada. Nem de propósito.

 

01
Set23

Viva Portugal

Costa

Há um tempo, num extraordinário rasgo de grandeza de estadista que ficará decerto nos anais, perguntou à senhora se já podia levar o cheque ao banco. Agora escreve-lhe, com formulações de eufemístico zelo burocrático, para que ela resolva um problema que ele deixou crescer anos a fio.

Governantes deste calibre são patéticos. Um povo que reiteradamente lhes confia o poder é coisa pior. 

Viva Portugal 

 

24
Ago23

Sinais dos tempos

Costa

"Nas mesas da Confeitaria Ateneia havia naquele tempo um ramo de violetas naturais. Hoje há uma caixa de metal com guardanapos de papel, onde está impresso um endereço de e-mail, o convite a uma informação obtida na internet, breve, impessoal, como a solidão e o abandono" (Mónica Baldaque, Sapatos de Corda).

 

14
Ago23

Exemplarmente laico e republicano.

Costa

Admita-se, a ideia foi imprudente: fruto seguramente, perante o grande, brilhante, sucesso, de um mal contido entusiasmo; uma obnubilação, enfim. Mas um político que, fora das esquerdas, o queira ser, não pode cometer erros desses.

O homem não viveu - e isso é óbvio -, ao reagir como reagiu recentemente, um momento alto da sua carreira e a ideia de dar o seu nome à ponte foi o pretexto desesperadamente procurado pela esquerda jacobina, fanaticamente ateísta, radical guardiâ e incansável catequista dessa sua religião para marcar o seu golo de honra quando tudo indicava que seria sujeita a uma colossal abada. E foi, mas um pouco de calma, de frieza, de pragmatismo teria evitado esta espécie de vitória moral (coisa em que os portugueses são competentíssimos especialistas) que assim lhe é servida de bandeja. E a esquerda sabe (sabe e pode, acarinhada como é por quem tem o poder de comunicar e formar - formatar, martelar à náusea - opiniões) com extraordinária competência aproveitar estas oportunidades.

Tudo visto, é claro, isto acabará por ser pouco relevante. Salvo miraculosa (de milagre, precisamente) excepção, à ponte restará o fatal destino dos bens confiados à guarda da administração pública: decairá, desfigurada por "grafittis", vandalizada no que dela se possa furtar ou apenas destruir por destruir, privada dos fundos e acções necessários para a sua regular manutenção. Esteticamente degradada, na melhor hipótese, ou mesmo estruturalmente perigosa, será, em prazo não muito longo, uma penosa memória visual de um acontecimento que, não sendo coisa de futebol, será largamente esquecido.

No limite cairá e arrastará na queda alguém; será então notícia por um dia ou dois e, no limite, levará à criação de uma comissão que, pomposamente anunciada pelo Poder de turno, dará em nada.

Talvez me engane. Deus queira que sim (e não: não gracejo nem O invoco em vão). Em todo o caso, se o pior acontecer melhor será que o seja com uma ponte baptizada com um qualquer nome exemplarmente laico e republicano.

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