Admita-se, a ideia foi imprudente: fruto seguramente, perante o grande, brilhante, sucesso, de um mal contido entusiasmo; uma obnubilação, enfim. Mas um político que, fora das esquerdas, o queira ser, não pode cometer erros desses.
O homem não viveu - e isso é óbvio -, ao reagir como reagiu recentemente, um momento alto da sua carreira e a ideia de dar o seu nome à ponte foi o pretexto desesperadamente procurado pela esquerda jacobina, fanaticamente ateísta, radical guardiâ e incansável catequista dessa sua religião para marcar o seu golo de honra quando tudo indicava que seria sujeita a uma colossal abada. E foi, mas um pouco de calma, de frieza, de pragmatismo teria evitado esta espécie de vitória moral (coisa em que os portugueses são competentíssimos especialistas) que assim lhe é servida de bandeja. E a esquerda sabe (sabe e pode, acarinhada como é por quem tem o poder de comunicar e formar - formatar, martelar à náusea - opiniões) com extraordinária competência aproveitar estas oportunidades.
Tudo visto, é claro, isto acabará por ser pouco relevante. Salvo miraculosa (de milagre, precisamente) excepção, à ponte restará o fatal destino dos bens confiados à guarda da administração pública: decairá, desfigurada por "grafittis", vandalizada no que dela se possa furtar ou apenas destruir por destruir, privada dos fundos e acções necessários para a sua regular manutenção. Esteticamente degradada, na melhor hipótese, ou mesmo estruturalmente perigosa, será, em prazo não muito longo, uma penosa memória visual de um acontecimento que, não sendo coisa de futebol, será largamente esquecido.
No limite cairá e arrastará na queda alguém; será então notícia por um dia ou dois e, no limite, levará à criação de uma comissão que, pomposamente anunciada pelo Poder de turno, dará em nada.
Talvez me engane. Deus queira que sim (e não: não gracejo nem O invoco em vão). Em todo o caso, se o pior acontecer melhor será que o seja com uma ponte baptizada com um qualquer nome exemplarmente laico e republicano.