As águas de Copacabana.
Passam poucos minutos das 12:30 de hoje. A RTP 3, o canal de informação da televisão pública portuguesa, transmite em directo o mergulho de Sua Excelência o Senhor Presidente da República Portuguesa nas quase cálidas águas do Rio de Janeiro (estarão pelos 23º/24º, informa e repete o repórter que acompanha pressurosamente o evento, notando que por lá é inverno e alertando para algumas correntes que aconselham, parece, particular prudência na prática em causa).
Percebe-se o "directo": uma incursão balnear do sr. presidente é em qualquer circunstância uma matéria do mais elevado interesse nacional, justifica para lá da qualquer dúvida uma ligação em directo transatlântica (desconheço o custo da coisa, mas cá está: o superior interesse nacional mais do que justifica qualquer custo) e uma alteração ao alinhamento noticioso. Apreciados devidamente os dotes de banhista do sr. presidente e devidamente registada mais uma concretização de tão importante, para o devir pátrio, tradição de sua excelência, passa-se para a notícia seguinte. Um longo "directo" contínuo, de há já longos dias (mas que já nem suscitará, é de crer, um desvio do olhar do prato de um pacato almoço de sábado; as coisas são como são, é tudo): parece que encerraram mais uma tantas urgências de ginecologia e obstetrícia, por esse país fora.
Mas as águas de Copacabana estão apetecivelmente mornas.