Da modernização administrativa.
A chamada foi atendida alguns segundos após o centésimo quinto minuto. Durante uma hora e quarenta e cinco minutos o telefone acompanhou-nos em fundo, com as músicas da praxe, delicadamente proporcionadas pela linha do cartão do cidadão (ou nome parecido), e a repetida informação gravada, dando conta da impossibilidade de atender a chamada e agradecendo que se aguardasse. Com esta gentil companhia da administração pública se tomou uma refeição ligeira e foram feitas as compras das mercearias da semana.
Até que, as compras carregadas na mala do carro, a segundos de deixar o parque de estacionamento, a chamada foi atendida. E as duas questões que o cidadão pretendia ver esclarecidas o foram, educada e prontamente, em não mais do que - e, arrisco, por excesso - uns cinco minutos.
Eficaz, no caso, administração pública? Sim, as questões foram respondidas de forma clara (ainda que a sra. funcionária usasse, sábia e educadamente, de linguagem que verdadeiramente não a vinculava, não a responsabilizava, sequer moralmente, se as respostas dadas não fossem correctas; mas confiemos). O que aliás é uma fatalidade: quem se não ela, administração pública, pode indicar o que fazer e como fazer para navegar no campo minado das imensas obrigações - tantas delas de tão duvidosa utilidade -, requisitos e passos burocraticos, quantas vezes plenos de discricionariedade, que se entretém, a administração pública, a inventar e impor ao cidadão? Eficaz, então: perguntada, deu a resposta.
Eficiente? Ah, isso da modernização administrativa tem muito que se lhe diga. Para o sujeito passivo (aplique-se aqui essa tão sugestiva figura jurídica): o cidadão - melhor, o contribuinte ou pagador de impostos e taxas - exposto à substancialmente inimputável máquina da administração pública, fiscal ou outra, a eficiência desta é isto: esperar uma hora e quarenta e cinco minutos para que um telefonema seja atendido. E por duas simples e breves respostas dadas em talvez nem cinco.
Mas está muito bem assim. Com ministério para o efeito e tudo.
