É assim...
É bem certo que não é fácil esquecer a coisa, tão abundantes têm sido as circunstâncias que permitem a sua invocação plena de actualidade. Isto (e com especial sensação de impotência) aceite, o caso dos últimos dias demonstra especialmente essa grande máxima do nosso republicanismo laico, tal como certeira e preciosamente formulada nos idos de 2006 por esse seu bastião intelectual que foi Joaquim Pina Moura: aquela segundo a qual a ética republicana é a ética da lei.
E nem os desenvolvimentos das últimas horas lhe retiram a plena aplicabilidade e valor de dogma socialista (e por isso, nem que à força, de toda a sociedade), já que a demissão por si, ainda que constituindo um absoluto mínimo imperativo, nada resolve, justiça alguma repõe, vício algum sana. Impunha-se, com ou sem esta questão da indemnização, pois - coisa de que ninguém aparentemente se lembrou; ou se lembrou até muito bem - sem ela se colocaria em boa medida nas mãos de alguém que até há ainda bem pouco tempo trabalhara, e em funções de liderança, numa empresa a sua desejavelmente próxima privatização. Mas sem outras consequências e num plano mais vasto, mais não é do que proporcionar em mentes básicas algum alívio imediato, superficial, breve, num mal bem mais profundo, espalhado, que anda por aí em dimensão bem vasta e decerto mal conhecida. É, sem mais, uma justiça de justiceiro: imediata, superficial, primária e puramente vindicativa e sem nada mudar de fundo.
É atacar um cancro com aspirinas: o cancro agradece. É na cansada - apenas porque tantas vezes validada - fórmula, ensinada pela literatura italiana, algo mudar para que tudo fique na mesma.
Ou, nas resignadas palavras do sr. presidente desta república quando inicialmente se referiu ao caso: "é assim..."