O normal
Os canais televisivos portugueses - os alegadamente vocacionados para o noticiário - de novo se entregaram incondicionalmente ao futebol. Não me dou ao trabalho de fazer tais contas, mas do pouco que vejo, antes de fugir para outras estações, ou desligar, parece que (como dantes) o jogo em si pouco interessa. Haja escândalo, violência e gastem-se horas a perorar com a solenidade (e a ordinarice, havendo pretexto; e abunda nesta escola de virtudes que é "a bola") que merece um tema crucial para a Pátria. Em torno de não sei que minudência. Talvez da "força anímica".
Os mesmos canais (e, suponho, os outros) noticiam com canina submissão, escrupulosa estupidez e meticulosa correcção política a presente investida mundial dos bárbaros e a generalizada, incondicional e cobarde rendição dos cultos, a pretexto de um homicídio. De um caso de polícia que está a ser aproveitado muito para lá do que significa. E isto não minimiza o horror das imagens conhecidas. Não desculpa o crime. Nem atenua a repugnância que merece esse aproveitamento. Que em todo o caso nada surpreende.
Bola e temas fracturantes (suponho que os "reality shows" e os novos programas de variedades: os concursos de candidatos a cantantes, cozinheiros e afins, estejam também de vento em popa). As agendas dos boçais, dos brutos e dos terroristas abundantemente servidas.
Por aí, por cá, o novo normal é o normal de sempre.